Respeitado nome no meio das artes marciais, David Silveira “adotou” como instrutor jovens do projeto Servir Sempre para treinar em sua academia, conhecida como Fábrica de Campeões. De acordo com ele, há cerca de dez anos, ele já oferecia treinamento voluntário para jovens da comunidade Nossa Senhora da Paz, a antiga Bratac.
O projeto retornou após conversa informal com Alessandro Mafra, que já treinou com ele. “Eu disse que podia retomar, mas que não tinha como buscar e levar os meninos embora após o treino”, diz Silveira. Mafra se propôs a fazer o transporte, todas as terças e quintas, e o projeto já dá frutos, com três medalhistas com pouco tempo de treino.
Silveira e Mafra, entretanto, não são os únicos voluntários a apoiar os meninos. O dono da academia pediu ajuda a amigos, que apoiam o projeto como podem. “Eu não pedi dinheiro, porque sei que a situação está muito difícil. Mas pedi que ajudassem com o que fazem de melhor. Eu, por exemplo, sei lutar, então, dou a academia e os treinos”, diz Silveira. E foi assim que ele conseguiu recursos para o combustível de Mafra, que leva e traz os jovens atletas, lanches para eles, atestados médicos para o campeonato e até dinheiro para inscrição, alimentação e transporte para Santo Inácio.
A médica Isabella Caroline Bizzani conheceu o projeto em uma conversa com Silveira, na qual ele contou o caso do menino que estava com pouca energia porque não havia comido nada ainda. “Isso acabou comigo, já que nunca passei por nada parecido. Então, decidi que tentaria ajudar de alguma forma e me coloquei à disposição para levar o lanche em um dos dias de treino”, conta.
Mas foi ela quem elaborou os atestados dos adolescentes, necessários para participar do campeonato, após exames feitos em um fim de semana. “Acredito que, se todos ajudarem de alguma forma, essas crianças consigam ser apenas crianças, aproveitar os treinos e não ter que se preocupar com ‘assuntos’ de adultos. O projeto servir sempre é incrível e está fazendo um trabalho maravilhoso, assim como o David treinando os meninos e os levando para campeonatos. E ver a alegria deles após o campeonato com as medalhas foi muito bom”, diz a médica.
Fábio Calado Bueno e Fernanda Dalbelo Calado Bueno são casados e ela trabalha produzindo e vendendo doces e bolos – por isso, a ideia de levar bolos para os lanches antes dos treinos, conta Fábio. “Em resumo, o que nos fez querer ajudar foi a possibilidade de retribuirmos um pouco de tudo o que temos e conquistamos no decorrer da nossa vida. Entendemos que somos muito abençoados e temos uma boa vida, graças a Deus. E, quando nos deparamos com este projeto, sabendo da real situação dos meninos, abraçamos a causa na hora porque é a forma de contribuirmos um pouco para um futuro melhor pra essa molecada”, conta.
O advogado Frederico Reis apoia o projeto ajudando a custear, semanalmente, o combustível de Mafra. Também foi ele quem ajudou a conseguir patrocínio para a viagem para o primeiro campeonato. “O que me fez ajudar [o projeto] é porque eles precisam. Se a iniciativa privada não ajudar, ninguém mais fará. São meninos dedicados, que gostam de treinar e que, se a iniciativa privada não apoiar, ninguém mais vai dar oportunidade”, justifica.
Angelo de Souza Cantizani tem 22 anos e pratica kickboxing desde a infância. Ele é um dos graduados de Silveira que auxilia treinando as crianças do projeto. “Sou voluntário do ‘Servir Sempre’ porque sei a importância que a arte marcial tem na fundação de valores e princípios de respeito nas pessoas que a vivem e vejo na instrução dos meninos uma oportunidade de poder contribuir pra que eles cresçam com boas referências, visto que eles vêm de onde a vida é muito mais difícil”, diz. Cantizani espera ser um exemplo pra eles de que é possível conquistar um espaço dentro do universo da luta e obter retornos por todos os anos dedicação praticando arte marcial.
Leia mais no Bonde
Com quatro meses de treino, meninos do assentamento Aparecidinha trazem três medalhas de torneio de kickboxing
Desenvolvimento, responsabilidade e alternativa de vida